O mundo vem travando uma verdadeira guerra contra um inimigo comum, o novo coronavírus, que vai deixando por onde passa seu rastro de dor, sofrimento e perdas irreparáveis.
Na linha de frente da luta contra o vírus, nós profissionais de saúde, o enfrentamos muitas vezes sem as devidas armaduras (EPI: Equipamentos de proteção individual). No intuito de garantir a assistência daqueles que vão em busca de nossos cuidados, colocamos em risco nossa vida e a vida das pessoas que amamos.
Em reconhecimento ao trabalho que desempenhamos, muitas manifestações foram feitas no mundo todo. Nova York iluminou o Empire State, a Torre Eiffel foi iluminada em Paris, no Brasil, o Cristo Redentor “vestiu” jaleco branco e aplausos foram ouvidos nas janelas como forma de agradecimento.
Em contrário à todas as expressões de reconhecimento aos profissionais da saúde, em Parauapebas, na madrugada do dia 03/05/2020, o então secretário de saúde, juntamente com representante do Conselho de Saúde municipal deferiu ação intitulada de “despertar”, nas dependências do pronto socorro municipal e Hospital Geral de Parauapebas, sob a justificativa de fiscalizar a atuação da equipe de saúde, adentrando em seus repousos, obrigando-os a “despertarem” do descanso que todo trabalhador noturno tem garantido por lei. Não obstante, circula em mídias e redes sociais do município as imagens dos profissionais com matérias vinculadas que incitam a população à depreciar a equipe de saúde nos comentários.
Os gestores estão cientes de que muitos profissionais estão sendo afastados ou adoecendo em decorrência da contaminação por covid-19, que resulta na escassez de pessoal habilitado para atuarem na linha de frente contra o coronavírus. E da ineficiência de contratação de profissionais recém-formados, sem nenhuma experiência, que ignoram desde a prática da punção venosa periférica (“pegar acesso venoso”) à administração correta de medicações, exigindo ainda mais da equipe já sobrecarregada de trabalho, que precisa ter atenção redobrada afim de evitar possíveis imperícias que ponham em risco a vida da população. E ainda, existem aqueles que quando contratados, simplesmente pedem demissão quando entendem o risco que todos estamos sujeitos na linha de frente dessa guerra contra o covid-19.
Frente à situação, a equipe de saúde que resiste a pandemia, tem assumido os plantões daqueles que estão impossibilitados de exercerem suas atividades, a fim de assegurar a continuidade dos serviços de saúde no município. Entretanto, ainda que com sobrecarga de trabalho, ao que parece, não podem dispor sequer do direito ao horário de descanso garantido na legislação brasileira, sem que venham ser submetidos à constrangimentos em redes sociais.
É repulsiva qualquer tentativa por parte da gestão, em culpabilizar e responsabilizar a equipe de saúde, quanto a problemática já existente na saúde pública que foi agravada pelo enfrentamento a pandemia. Instigar a sociedade contra os profissionais, tem a finalidade de desviar seus olhares para as reais necessidades do município que vão desde a disponibilização de maior número de leitos de uti, medicações, insumos hospitalares, equipamentos de proteção para os profissionais, criação de fluxo diferenciado para atendimento aos pacientes sugestivos e confirmados de coronavirus, e melhores condições de trabalho, realização de teste nos profissionais de saúde.
As problemáticas supramencionadas, foram apresentadas em reunião ocorrida no HGP, no dia 01/05/20, onde foram cobrados dos gestores providências, e que possivelmente motivou a tal “fiscalização” do dia 03/05/20 como forma de coibir as manifestações e reivindicações dos servidores da saúde.
Por todo o exposto, o SINSEPPAR, os Trabalhadores em Saúde do HGP e do Pronto Socorro de Parauapebas, apresentam esta nota de total repúdio às ações que visaram expor os profissionais de saúde de forma negativa à sociedade.